Itaú provisionou R$ 24,3 bilhões de janeiro a setembro deste ano –pouco mais de um terço do total de reservas feitas pelos grandes bancos
Os quatro maiores bancos com capital de aberto do país (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) separaram, de janeiro até setembro, R$ 72,1 bilhões em reservas para cobrirem eventuais calotes. O valor ultrapassa a quantia provisionada em todo o ano passado (de R$ 61,2 bilhões) e supera em 8,9% o último marco para o período, de R$ 66,2 bilhões, registrado em 2016.
O movimento acompanha a crise do coronavírus e os números continuam altos mesmo depois de os indicadores econômicos já terem sinalizado alguma recuperação.
Segundo o vice-presidente de riscos e finanças do Itaú Unibanco, Alexsandro Broedel, apesar de o desempenho do crédito ter sido melhor do que o projetado no início da pandemia, ainda existem incertezas no cenário macroeconômico do país que impedem reduções mais drásticas nas reservas contra calotes.
“As provisões são formadas por ativos com perdas potenciais. Isso significa que a perda ainda não aconteceu, mas pode acontecer. E apesar dos bons indicadores de inadimplência do banco, ainda há muita incerteza no país cujos efeitos não são totalmente claros”, afirmou Broedel em entrevista com jornalistas na divulgação de resultados do banco.
As provisões para devedores duvidosos, como também são conhecidas pelo mercado financeiro, são formadas por um montante mínimo estabelecido pelo regulador e por montantes adicionais, colocados a critério de cada instituição com base em seus modelos de análise de risco e de crédito.
O volume de provisionamento por banco mantém o padrão conhecido pelo mercado.
Sozinho o Itaú provisionou R$ 24,3 bilhões de janeiro a setembro deste ano –pouco mais de um terço do total de reservas feitas no total pelos grandes bancos. E o banco é conhecido por fazer reservas maiores quando o ambiente econômico se torna instável.
O Bradesco separou R$ 21,2 bilhões para cobrir eventuais calotes. Banco do Brasil foi responsável por provisionar cerca de R$ 17 bilhões no período. O Santander reservou R$ 9,7 bilhões para este fim. O banco espanhol também costuma fazer provisões menores.
Para o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, a expectativa é de crescimento da carteira de crédito ao longo dos próximos meses, o que pode dar um fôlego a mais nos resultados.
“Esperamos um crescimento para o crédito, mas ainda estamos observando como o ambiente se desenvolve. Grande parte das prorrogações já voltou ao pagamento normal e os indicadores estão mais positivos, mas a inadimplência virá, sem dúvida. O que depende de vários fatores é a velocidade com a qual ela tende a vir”, afirmou Lazari na divulgação de resultados do banco.
Entre os fatores que podem influenciar na inadimplência bancária, Lazari cita o mercado de trabalho, a chegada de uma vacina contra o coronavírus e a situação fiscal do país –que ainda deixa dúvidas no mercado financeiro sobre se o governo tende ou não a estourar o teto de gastos.
Outra preocupação entre os agentes do mercado é sobre um possível aumento da inadimplência diante do fim do auxílio emergencial –projetado para acontecer em dezembro.
Segundo Claudio Gallina, diretor de instituições financeiras da Fitch Ratings para a América Latina, os bancos brasileiros tendem a enfrentar desafios contínuos de receita e lucratividade em 2021.
“A deterioração da qualidade dos ativos será um risco principal para os perfis de crédito dos bancos, uma vez que os programas de tolerância de empréstimos expiram no final do ano. [Esse cenário] deve levar a um aumento acentuado nas despesas com empréstimos e provisionamentos deteriorados no primeiro trimestre de 2021”, disse o executivo em relatório, afirmando ainda que esse ambiente não deve voltar aos níveis pré-pandêmicos até 2022.
Os lucros dos quatro maiores bancos do país, apesar de menores, continuaram bilionários. Juntas as instituições somaram R$ 45,9 bilhões de lucro líquido de janeiro a setembro deste ano. O número representa uma queda de 28,7% em relação ao registrado em igual período de 2019.
Para o presidente do Santander, Sergio Rial, apesar de o governo brasileiro ter feito importante ações para minimizar os impactos do coronavírus, ainda faltam sinais claros sobre o que pode acontecer em 2021.
“Muita coisa ainda pode influenciar nos juros e no câmbio. A sinalização positiva de uma convergência fiscal reestabelece a confiança e traz um reajuste na curva longa de juros, que é o que define investimento de longo prazo e fomenta áreas empregadoras. Mas tudo ainda depende desses sinais, que precisam ser claros”, disse.
Nesta quinta-feira (5) a curva de juros futuros para 10 anos estava em 8,16% ao ano. O dólar encerrou a sessão em queda de 1,96% ante o real, cotado em R$ 5,5460.
Os papeis dos quatro maiores bancos do país fecharam o pregão em alta. Itaú subiu 2,39%, os papéis do Bradesco avançaram 1,93% (ON) e 1,54% (PN), as ações do Banco do Brasil tiveram alta de 1,22% e as units do Santander ganharam 2,18%.
O Ibovespa encerrou em alta 2,94%, aos 100.751 pontos. As informações são da FolhaPress (Fonte: Jornal de Brasília)