Segundo o Dieese, os bancos estão transferindo suas despesas para os trabalhadores, causando compressão indireta de rendimentos. O BB, por exemplo, prevê economizar R$ 690 milhões com aluguéis e manutenção de imóveis nos próximos cinco anos
Pesquisa inédita realizada pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese) aponta que o home office, conhecido também como trabalho remoto ou teletrabalho, tem aumentado as despesas dos empregados e reduzido os gastos administrativos dos bancos. Segundo o estudo, os bancos estão transferindo parte das suas despesas para os trabalhadores, causando compressão indireta de rendimentos.
Pesquisa Nacional sobre home office dos bancários
Despesas com tarifas de energia elétrica, gás, internet e os gastos com alimentação apresentaram alta para os trabalhadores. Por outro lado, constatou-se vultosa redução das despesas administrativas nos bancos. O Banco do Brasil, por exemplo, prevê economizar R$ 690 milhões com aluguéis e manutenção de imóveis nos próximos cinco anos.
A pesquisa do Dieese, que ouviu 8.560 bancários e bancárias em todo o país, tem o objetivo de conhecer as condições de trabalho da categoria bancária em home office: avaliar o fornecimento de equipamentos pelos bancos, a realização e cumprimento da jornada de trabalho, avaliar o impacto na saúde do trabalhador, na conciliação das tarefas de trabalho com tarefas domésticas e na relação com os demais membros do domicílio, e também identificar as prioridades para a negociação.
Os respondentes, em sua maioria, pertenciam aos cinco maiores bancos (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa) e estavam ou já estiveram em home office em 2020, na ocasião do levantamento. Além de constatar que o home office teve impacto no bolso do trabalhador, a pesquisa também captou as tendências de extensão e intensificação das jornadas de trabalho e redução e flexibilização do pagamento das horas extraordinárias. Saúde foi outro problema que impactou os trabalhadores em home office. O Dieese estima que desde o início da pandemia, em março do ano passado, 230 mil bancários tenham aderido ao home office. Esse número representa cerca de 50% da categoria em todo o país.
Na ordem do dia
O coordenador-geral do Sindicato dos Bancários/ES, Jonas Freire, afirma que a pesquisa é muito importante pelo ineditismo, abrangência e o momento. “O tema está na ordem do dia e a pesquisa retrata com precisão a realidade dos empregados que estão em teletrabalho. As entidades sindicais estão discutindo com os bancos justamente a regulamentação do teletrabalho. Essa é exatamente a pauta em negociação com a diretoria do Banestes, que nos apresentou uma proposta de teletrabalho recentemente. Na plenária que fizemos no final de 2020 para discutir o tema, muitos pontos levantados pelos empregados apareceram na pesquisa”.
O dirigente cita como exemplo as condições de trabalho. “Com a pandemia, por uma questão de saúde pública, muitos bancários foram obrigados a aderir ao home office de uma hora pra outra. A maioria não estava preparada para levar o escritório para dentro de casa e as dificuldades e impactos foram muitos, como mostra a pesquisa”.
“Escritório” na cozinha
Questionados a respeito do cômodo da residência em que o trabalho era realizado – com possibilidade de múltipla escolha – 44,8% afirmaram trabalhar na sala; 28,8%, em quarto individual; 19,2%, em escritório; 9,3%, em quarto compartilhado; e 5,1%, na cozinha. Ou seja, apenas a minoria dos trabalhadores conta com uma estrutura reservada e própria para o desempenho de atividades laborais em sua casa.
Na plenária do Banestes, recorda Jonas, os empregados também se queixaram da falta de móveis e equipamentos adequados para desenvolver o trabalho em casa. A pesquisa apurou em relação ao quesito “estrutura para o trabalho”, que a pior situação são dos equipamentos de ergonomia (apoios para antebraços, pulsos e pés, suporte de ajuste de altura para monitores, entre outros), considerados muito ruins por 22% dos respondentes e ruins por 23% deles. Na sequência, vinham cadeira, acústica e mesa. Jonas Freire afirma que esse suporte ao trabalhador tem sido diferente de banco para banco (tabela abaixo).
“Como revelou a pesquisa, 32,5% dos entrevistados não receberam qualquer equipamento ou suporte por parte dos bancos (gráfico abaixo). Como foi tudo feito às pressas, ficaram muitas questões sem regulamentação. Por isso é tão importante discutir cada um desses pontos para que o home office não se torne uma via de mão única, com vantagens apenas para os bancos”, assinala o dirigente.
Mais trabalho em casa
Para 58,9% dos entrevistados, a jornada efetivamente trabalhada em home office permaneceu igual à que era cumprida presencialmente; mas para 35,6% a jornada de trabalho aumento “muito” ou “um pouco” em relação ao trabalho presencial. Na avaliação de 4,2% diminuiu “um pouco” e apenas para 0,7% diminui “muito” (gráfico abaixo).
O sindicalista diz que outro dado que preocupa na pesquisa é o fato de mais de 25% dos empregados não estarem recebendo horas extras ou tampouco acumulando banco de horas. “Por isso a regulamentação é tão importante e urgente. Precisamos cessar esses desvios. Muitos bancos estão protelando para resolver questões mais complexas, como horas extras ou marcação de ponto eletrônico. O levantamento do Dieese aponta que apenas 11% dos empregados estão recebendo horas extras em home office (gráfico abaixo).
Home office X saúde
Embora o home office tenha surgido como alternativa mais efetiva para proteger os funcionários com comorbidades dos riscos de contágio do vírus, outras doenças (físicas e mentais) têm acometido os empregados que estão em home office durante a pandemia. Depressão, ansiedade e insonia foram alguns dos problemas que se agravaram com o teletrabalho. A pesquisa mediu os impactos à saúde física e mental do trabalhador antes e depois do home office.
Mais da metade dos entrevistados, 54%, disse ter medo de ser dispensado. Essa apreensão reaparece para 55,6% que disseram “sempre estar preocupados com o trabalho” (gráfico abaixo).
Outros problemas apontados pela pesquisa foram os relacionados a dores musculares (nas costas, lombar e pescoço). Segundo o Dieese, para 31,4% dos respondentes essas dores já existiam antes e continuaram depois do home office, mas, para 24,9%, surgiram depois do início do home office, o que está diretamente ligado às condições das instalações nas residências, como o uso de mesas e cadeiras incompatíveis com o trabalho e falta de equipamentos de ergonomia.
Os pesquisadores destacam que cerca de um terço dos respondentes declarou que o banco não se responsabilizou pelo fornecimento de equipamento ou móvel. Também relacionadas às condições das instalações para a realização do trabalho estão as dores nas articulações (nos pulsos e ombros) e as dores ou formigamentos nas mãos, braços e ombros. Para cerca de 16% dos respondentes, ambos os sintomas surgiram após a adoção do home officee, para mais de 20%, já existiam antes e persistem após o início do novo regime de trabalho.Fonte: Dieese