Maior alta do lucro foi o do Bradesco, mas analistas destacaram Santander como o que apresentou melhor balanço; pior ficou para trás, mas há desafios (Por Lara Rizério) – foto divulgação –
Uma recuperação nos lucros após o baque do ano passado e uma estimativa mais positiva para frente com vacinação guiando o sentimento positivo, mas preocupações sobre inadimplência e aumento da concorrência no radar.
Desta forma, os analistas de mercado seguem com um otimismo cauteloso sobre os maiores bancos de capital aberto do Brasil que, juntos, tiveram lucro líquido de cerca de R$ 21,84 bilhões, alta de 46,44% do lucro no primeiro trimestre de 2021 na comparação anual.
Levando em conta as maiores altas de lucro, o destaque ficou para o Bradesco, com variação positiva de 74%, sendo seguido pelo Itaú com ganhos de quase 64%, sendo seguidos por Banco do Brasil, com alta de 45%, enquanto Santander teve a menor alta de lucros, de 4%, como pode ser visto pelo quadro a seguir:
A alta do lucro foi muito guiada pela queda das provisões para devedores duvidosos: no trimestre, o provisionamento dos maiores bancos somou R$ 13,8 bilhões, queda de 51,1% com relação ao mesmo período de 2020. Contudo, nem sempre lucros maiores e menores provisões significa uma boa qualidade dos resultados.
Conforme destaca Marcel Campos, analista do setor bancário da XP, o Santander Brasil apresentou o melhor resultado entre os bancos privados, porém ainda com baixas provisões e já com sinais de aumento da inadimplência, o que leva a dúvidas sobre qual será a atitude do banco quando ela de fato chegar. O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE, na sigla em inglês) no período atingiu 20,9% no período.
Entre os pontos positivos, está a maior margem financeira (NII), uma vez que a empresa conseguiu entregar um crescimento em relação ao trimestre anterior na margem financeira sobre os ativos rentáveis (NIM). Em segundo lugar, as receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias, que aumentaram 8% na comparação ano a ano, para R$ 4,9 bilhões, número considerado impressionante pela equipe de análise da XP.
Conforme destaca Victor Schabbel, analista do Bradesco BBI “a qualidade geral dos resultados foi positiva, principalmente devido à recuperação de receitas bem como por um maior controle de despesas”. As despesas totais da companhia apresentaram queda de 0,5% na comparação anual, atingindo R$ 5,3 bilhões, bom resultado atribuído principalmente em uma redução de 4,4% nas despesas com pessoal.
Campos e Matheus Odaguil, analistas da XP, pontuam também o anúncio do pagamento de R$ 3 bilhões em dividendos, somando-se aos R$ 512 milhões já anunciados anteriormente. A soma implica um dividend yield (relação entre o dividendo sobre o preço da ação) de 2,5% (10% se anualizado) e 88% de dividend payout (dividendo em relação ao lucro líquido) no trimestre.
Os índices de inadimplência de 90 dias ficaram praticamente estáveis em 2,1%, com a formação trimestral de inadimplência em 0,8% (praticamente estável no trimestre). Contudo, o Bradesco BBI reforça que o índice de inadimplência de 15 a 90 dias já mostrou sinais de deterioração, avançando rapidamente a partir de dezembro. Na comparação do primeiro trimestre de 2021 com o quarto trimestre de 2020, houve uma alta sequencial de 80 pontos-base, para 3,6%.
Para Schabbel, embora esperado até certo ponto, este pode ser um ponto de atenção para o futuro próximo, especialmente levando em consideração o desempenho mais fraco da economia frente o esperado no início do ano. O Santander reservou R$ 3,16 bilhões em provisões para créditos de liquidação duvidosa, queda de 7,7% em relação ao ano anterior. Ainda assim, o volume subiu 9,7% na base sequencial.
Quem surpreendeu positivamente o mercado, mas ainda inspira cautela, é o Banco do Brasil: o lucro superou as estimativas do consenso de mercado em 20%, em grande parte devido a menores provisões. E, conforme destaca o BBI, a forte NII sequencial e as baixas despesas de provisionamento compensaram as receitas de tarifas mais fracas.
A NII aumentou 3,1% no trimestre, muito melhor do que o desempenho de seus pares, com spreads amplamente estáveis em uma base sequencial, enquanto o resultado de tesouraria também foi resiliente no trimestre e apoiou o forte desempenho. Na frente de provisionamento, o Banco do Brasil entregou R$ 2,5 bilhões de despesas líquidas (menor nível nominal em pelo menos 7 anos), implicando cobertura de novos empréstimos inadimplentes (NPLs) de 74% e reduzindo o total de inadimplência de 90 dias cobertura de saldo para 328% (de 348% no quarto trimestre de 2020).
Contudo, os analistas seguem cautelosos com as ações, destacando que apesar do forte lucro líquido superado pelo consenso, os resultados do primeiro trimestre não devem desencadear revisões para cima dos lucros neste momento, avaliam.
“Embora ainda haja 3 trimestres à frente, o ponto médio do guidance (pelo menos na frente operacional) implica uma aceleração das receitas de tarifas e manutenção de sua disciplina de custos. Além disso, as provisões no trimestre parecem bastante baixas e podem piorar nos próximos meses à medida que a inadimplência começa a aumentar. Com visibilidade de lucros ainda limitada – especialmente porque o Banco do Brasil teve a maior parte de seus empréstimos sendo reformulada (com R$ 26 bilhões ainda por vencer em março de 2022) – acreditamos que as ações ainda não têm o gatilho para reavaliar o curto prazo”, reforçam os analistas do BBI, mantendo recomendação neutra para os ativos.
Bom desempenho operacional, mas…
Já no “meio termo”, está o Bradesco, que apresentou um bom desempenho operacional; contudo, mais uma vez, a deterioração na inadimplência foi uma questão, atingindo especialmente o segundo maior banco privado do Brasil.
O resultado da instituição foi impulsionado principalmente por um forte desempenho operacional, com melhorias em sua margem financeira, seguros e custos. Depois de um fraco 2020, em que o negócio de seguros representou apenas 26% do lucro fraco do banco (versus 29% nos ganhos de R$ 26 bilhões de 2019), e implicando em 13,4% de rentabilidade (versus 19% em 2019), 2021 começou bem com o segmento atingindo 25% de um lucro 74% maior na base anual, implicando em rentabilidade de 20%, seu melhor resultado desde o quarto trimestre de 2019, visto que as receitas financeiras melhoraram no trimestre saltando 90% anual, para R$ 1,4 bilhão.
O Bradesco viu sua carteira expandida avançar 2,6% nos três primeiros meses deste ano e alcançar R$ 705,2 bilhões, saldo 7,6% superior ao verificado no fim de março de 2020.
Os analistas da XP avaliam que precisam de mais clareza sobre o aumento sazonal da inadimplência, uma vez que o índice de inadimplência em 90 dias se deteriorou 28 pontos-base no trimestre, para 2,5% (e ficando 8 pontos-base acima da expectativa da XP), significativamente afetado por empréstimos renegociados já provisionados. A inadimplência vinha estável em 1,9% desde setembro, depois de ter atingido o pico de 4,5% no primeiro trimestre do ano passado.
Com a alta da inadimplência, o banco consumiu 50 pontos percentuais em índice de cobertura – relação entre empréstimos inadimplentes e provisões – em 90 dias para 350%. Embora ainda em um patamar confortável, os analistas esperam que a inadimplência aumente consideravelmente.
Os bancos, cabe destacar, realizaram renegociações de dívidas em meio à crise com a pandemia do coronavírus; desta forma, a expectativa é que o nível de inadimplência registre aumento nos próximos trimestres.
Por fim, e com pior desempenho, ainda que os números à primeira vista sejam positivos, está o Itaú Unibanco, cuja ação caiu 4% após a divulgação dos resultados. A avaliação é negativa principalmente devido à baixa possibilidade de recorrência do resultado, entre outros pontos do balanço, conforme aponta a XP.
Um dado mostra a diferença dos resultados, especialmente entre Santander e Itaú: o comportamento da margem financeira das operações com clientes, que reflete o resultado das operações de crédito no varejo bancário. Enquanto o primeiro teve avanço de mais de 6% nessa rubrica, o segundo verificou um recuo superior a 5% nessa parte do balanço, entre janeiro e março deste ano.
“O Itaú divulgou diversos itens não sustentáveis, que ajudaram no resultado, enquanto áreas relevantes como rendas de tarifas, margem financeira com clientes e custos apresentaram desempenho abaixo do esperado. À medida que a concorrência aumenta e os reguladores se tornam mais agressivos, acreditamos que o consumo de cobertura [para perdas] e os resultados de tesouraria sejam menos relevantes para as perspectivas do setor”, avalia a XP.
Campos e Odaguil destacam ainda que o Itaú está ficando atrás de seus pares privados em termos de corte de custos, uma vez que o banco ainda aumentou suas despesas totais em 3,2% anualmente para R$ 12,5 bilhões. Eles avaliam que o Itaú poderia ter um melhor desempenho, especialmente nas despesas de pessoal, que cresceram 6% anualmente, para R$ 6 bilhões. Como os concorrentes digitais têm um custo de servir e de aquisição de clientes menor que o do Itaú, os participantes do mercado devem olhar para os custos com cuidado, destacam.
“Ao todo, analisamos R$ 3 bilhões em resultados que acreditamos que os investidores devem olhar com atenção. Por outro lado, a taxa de imposto efetiva de 41% do banco também parece única, já que o banco teve que reavaliar os ativos fiscais diferidos que impactaram negativamente a linha”, reforçam.
Destaques das teleconferências e recomendações
O chamado “otimismo cauteloso” dominou a mensagem dos executivos em release de resultados e a teleconferência dos analistas com o mercado. Octavio de Lazari, presidente do Bradesco, apontou que os balanços dos bancos mostram um horizonte de negócios começando a se desanuviar, após a tormenta provocada pela pandemia de covid-19.
Em seu balanço, o Bradesco passou a mensagem de que as operações podem ficar mais rentáveis. A margem financeira da instituição ficou praticamente estável em relação à verificada nos últimos três meses.
Para Lazari, há clima para o Bradesco “sair da defensiva” e buscar novos negócios que ampliem seu volume operacional. Essa noção, no entanto, continua baseada em uma cobertura de provisão para créditos de liquidação duvidosa, conhecidas pela sigla PDD, equivalente a 350% do saldo de empréstimos em atraso superior a 90 dias do banco.
Milton Maluhy, CEO do Itaú, ponderou que, face à crise, o mix da carteira de clientes se alterou, com mais operações de atacado, de spread mais baixo, e menos com clientes de varejo, havendo ainda migração para empréstimos com carência, prazos mais longos e taxas contidas para o último grupo. Mas ele disse também que já notava em abril a retomada de linhas que garantem mais ganhos para o banco, o que poderia levar a melhores resultados mais adiante.
No Itaú, que há um ano deu o tom do conservadorismo que seria adotado na pandemia, as provisões excedentes não serão revertidas, segundo Maluhy. As reservas não precisaram ser usadas nesse primeiro trimestre, com taxas de inadimplência ainda comportadas, mas seguirão à disposição em caso de uma piora de cenário, apontou.
Já Fausto Ribeiro, novo CEO do BB, destacou que vê a possibilidade do lucro deste ano ficar acima das projeções feitas pelo banco. Ele disse que foi mantido o plano de redução de custos anunciado por seu antecessor, André Brandão, em janeiro (e que foi o estopim para a saída do executivo), que inclui o fechamento de 361 unidades de negócios e programas de demissão voluntária de funcionários. No primeiro trimestre, foram fechadas 447 agências e postos de atendimento e desligadas 3.797 pessoas, o que causou insatisfação por parte do presidente Jair Bolsonaro.
Ribeiro fez afirmações a princípio positivas para o mercado, ainda que rivalizem com os últimos sinais dados pelo governo sobre o que espera para a nova gestão da companhia. O CEO afirmou a jornalistas que Bolsonaro pediu aumento na rentabilidade da instituição: “O presidente Bolsonaro me disse para buscar uma lucratividade maior, para aumentar a eficiência”, destacou, acrescentando que sua gestão será técnica. “Não há interferência política, o banco só está se aproximando do ministro da Economia”, complementou.
Desta forma, mesmo com a sensação de que o pior pode ter ficado para trás, ainda há a ponderação de um cenário de crédito deteriorado, com a inadimplência podendo piorar com o fim das renegociações, novos entrantes mais competitivos e capitalizados, além das medidas tomadas pelo Banco Central de forma a aumentar a competitividade das instituições.
Com isso, quem estiver mais na frente em termos de corte de custos e de digitalização acaba tendo a preferência entre os investidores.
Durante as falas pós-balanços, aliás, as instituições destacaram seu foco em acelerar a digitalização e buscar parcerias. O it, do Itaú, chegou atualmente a 6 milhões de usuários e a previsão é de atingir 15 milhões no fim do ano, enquanto o Next, do Bradesco, tem 4,4 milhões e a projeção é de 7 milhões ao fim do ano. O Santander está reforçando a sua plataforma de investimentos e o BB analisa a possibilidade de ter um sócio para sua gestora BB DTVM.
Após a divulgação dos balanços, o Bradesco segue sendo a preferência entre os analistas, com 15 recomendações de compra, mesmo com o resultado não sendo tão bem avaliado. A XP reiterou recomendação de compra e preço alvo de R$ 27 para o banco, pois avalia que seus resultados sejam mais sustentáveis no longo prazo. As projeções dos números, aliadas à estratégia de redução de custos e as expectativas de um banco mais eficiente na era digital, guiam as boas perspectivas, enquanto seus múltiplos parecem descontados para pares privados.
A XP também possui recomendação de compra para BB e preço alvo de R$ 43 pois avalia que os múltiplos do banco sejam atrativos, enquanto operacionalmente o banco segue defendido com boas taxas de cobertura/adequação de capital e uma carteira defensiva. A recomendação para Santander Brasil é neutra, com preço-alvo de R$ 32, pois acredita que o banco pode ter que fazer mais provisões no médio prazo; essa é a mesma recomendação do Itaú, com preço-alvo de R$ 29.
Já o Credit Suisse possui recomendação neutra para Banco do Brasil, com preço-alvo de R$ 38; para os outros três grandes bancos, a recomendação é outperform (desempenho acima da média do mercado): Itaú com preço-alvo de R$ 39, Bradesco com target de R$ 30,91 e Santander com preço-alvo de R$ 51. Mesmo com a concorrência mais alta e desdobramentos da crise do coronavírus no lucro, a expectativa é de um ciclo de alta dos lucros em 2021. (Fonte: InfoMoney com informações do Estadão Conteúdo)
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