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GESTORES DA CAIXA SE QUEIXAM DE METAS ABUSIVAS, ASSÉDIO E ADOECIMENTO

Na pesquisa realizada pela Fenag, a partir das 31 associações pelo país, os 1.473 gestores que responderam ao questionário, em sua maioria, apontaram o aumento da pressão por metas, o assédio moral, o adoecimento e a sobrecarga de trabalho como os problemas mais graves

A Fenag, por meio das 31 Associações de Gestores da Caixa (Agecef) espalhadas por todo o país, realizou a “Pesquisa de Clima no Ambiente Caixa”. Entre os dias 1 de março e 30 de abril, os 1.473 gestores (do universo de quase 16 mil gestores) que responderam ao questionário, em sua maioria, apontaram o aumento da pressão por metas, o assédio moral, o adoecimento e a sobrecarga de trabalho como os principais problemas enfrentados no dia a dia.

O vice-presidente da Regional Sudeste da Fenag, o advogado Heitor Menegale, relata que a instituição recebe constantemente denúncias relacionadas às queixas apontadas na pesquisa. “Por conta dessas denúncias, que se intensificaram justamente durante a pandemia, a Fenag decidiu sistematizar essas informações por meio de uma pesquisa”, explica.

Menegale chama atenção para o fato de quase a metade dos gestores (46,4%) terem sofrido e/ou testemunhado casos de assédio moral na Caixa. Destes, 26,1% citaram o fechamento de caixa diário como exemplo, enquanto 51,31% se disseram intimidados de opinar em lives e reuniões.

A saúde é outro problema destacado por Menegale: 75% acham que a ameaça de perda da função afeta o estado emocional do profissional. Ele diz que o resultado dessa pressão é o adoecimento do gestor.

Tanto o assédio quanto o adoecimento são consequências das metas abusivas. Segundo a pesquisa, 68,24% consideram inadmissível o aumento das metas no quarto trimestre do ano passado e descaso da direção do banco com as condições de trabalho durante a crise sanitária.

“Em meio à pandemia, a Caixa não demonstrou o mínimo de sensibilidade com seus empregados. No momento em que as pessoas evitavam sair de suas casas por causa da pandemia, o banco continuou cobrando as metas comerciais dos empregados como se tudo estivesse na sua mais completa normalidade. Houve um aumento extrordinário do público por conta do pagamento do auxílio emergencial nas agências da Caixa. Pessoas que buscavam um benefício para sobreviver. Não havia como cumprir as metas comerciais com esse público, mas a Caixa ignorou essa realidadene e simplesmente seguiu exigindo metas”, aponta Menegale.

Não por acaso, ressalta o VP da Fenag, a pesquisa apontou que mais da metade dos participantes (51,5%) da pesquisa não entendem o real propósito e o impacto na sociedade e na própria Caixa dos resultados exigidos. Além disso, 39,6% dos gestores disseram não se orgulhar por já terem pressionado suas equipes, realizado vendas casadas e aplicado MO – aviso ao empregado para alertá-lo que ele está prestes a ser descomissionado.

“Além de revelar com dados os casos de assédio, a cobrança por metas abusivas entre outras questões, a pesquisa também tem um efeito transformador, ou seja, ela é capaz de provocar uma reflexão e de transformar as pessoas. Quando quase 40% dos gestores reconhecem que não se orgulham por ter pressionado suas equipes, isso demonstra empatia do gestor. Ele vai se lembrar que um dia também foi pressionado e não gostou daquela experiência”, assinala Menegale.

Espírito Santo

“Pesquisa de Clima no Ambiente Caixa” ouviu 186 gestores no Espírito Santo. A cobrança excessiva de metas é o assunto que atualmente mais preocupa os gerentes: 14,29%. Na sequência, entre as questões mais citadas, aparecem Saúde Caixa e saúde dos empregados (12,66%) e a defesa da Caixa 100% pública (11,85%). Falta de pessoas (7,79%); assédio moral (6,66%); Funcef e aposentadoria (5,36%); sistemas e processos (4,87%); agenda diária e controles (2,76%); meritocracia (1,95%) e desenvolvimento e capacitação (1,62%) são outros assuntos que surgiram no levantamento (tabela abaixo).


Para a diretora do Sindicato dos Bancários e integrante da CEE-Caixa, Lizandre Borges, a cobrança de metas abusivas caracteriza o assédio e consequentemente o adoecimento dos empregados. “São questões que estão relacionadas. Quando as metas são intangíveis, o assédio é a ferramenta que a empresa usa para tentar tirar além do que o empregado humanamente pode entregar. O resultado dessa equação perversa é o adoecimento físico e mental. A pesquisa mostra que 64% dos gerentes relataram ter sofrido assédio. Não por acaso, as doenças emocionais como síndromes de fadiga ou esgotamento (Burnout) são as mais citadas.

A dirigente destaca que além das consequências à saúde, a cobrança excessiva de metas também causa preocupação com a perda de função.“As metas são determinantes para que os gerentes permaneçam ou não na função. Caso não as cumpram, a Caixa pode alegar que são improdutivos. E a perda da função não significa somente um rebaixamento hierárquico, mas também a perda de 60% do valor do salário bruto. É uma perda bastante significativa na renda. Pela média de idade dos gerentes, grande parte tem família, filhos em idade escolar, ou seja, os ganhos com a função já estão incorporados ao orçamento familiar, por isso a preocupação em perdê-la”, diz Lizandre.

A análise da dirigente se reflete nos dados da pesquisa, uma vez que 125 (67,9%) dos entrevistados afirmaram que a ameaça de perda de função, seja ela direta ou indireta, afeta negativamente o estado emocional. Quarenta pessoas (21.7%) concordaram em parte com isso; sete (3.8%) discordaram em parte; seis (3,3%) discordaram; e outros seis (3,3%) preferiram não responder. Lizandre acredita que entre os demais empregados a pressão por metas também pode vir a ser uma das maiores preocupações.

Isso pode se tornar uma realidade, afirma, pela tentativa da Caixa de fazer com que o cumprimento das metas tenha mais peso na promoção por mérito. A diretora recorda que em 2020 houve tentativa de implementação dessa iniciativa, que foi barrada pelo movimento sindical, tendo como um dos argumentos a pandemia da covid-19. Neste ano, assinala Lizandre, a Caixa pode tentar fazer o mesmo. “Se for de fato implementado, vai preocupar as pessoas que querem pleitear uma função, não somente quem já tem”, diz.

Adoecimento e assédio moral

Repetindo os dados gerais da pesquisa, o assédio moral é uma preocupação dos gestores que atuam no Espírito Santo. A pesquisa aponta que 64 (34,78%) dos entrevistados disseram ter sofrido e/ou presenciado colegas sofrendo assédio. Outros 42 (22,83%) sofreram, mas não presenciaram; 41 (22,28%) afirmaram não sofrer, mas terem presenciado colegas sofrendo; 27 (14,67%) não sofreram e 10 (5,42%) nunca foram assediados nem presenciaram nada nesse sentido no local de trabalho. “O assédio, metas e adoecimento fazem parte de uma mesma engrenagem. Se o gerente é pressionado, acaba pressionando sua equipe. É um efeito dominó. E o final desse processo é o adoecimento de equipes inteiras”, adverte Lizandre.

A fala da dirigente pode ser comprovada nos dados apurados pela pesquisa: 141 (41,2%) dos gerentes acham que são cobrados por metas incompatíveis às condições de trabalho. Esse fator é seguido por microgerenciamento (38,3%), exposição constante de ranking (14,9%), e jornadas de trabalho muito longas (5,6%).

A pesquisa perguntou se o gerente adoeceu ou conhece colegas de trabalho que adoeceram. Nessa resposta cada gerente podia citar até dois grupos de doenças. Tristeza, choro, culpa, sensação de fracasso foram citadas 130 vezes, dentro do grupo “sintomas emocionais”; síndrome do esgotamento profissional (Burnout) apareceu 74 vezes; síndrome de fadiga recebeu 69 menções (veja a tabela abaixo).

Metas abusivas

A pesquisa mostra uma receptividade negativa em relação ao aumento das metas no último trimestre de 2020. Os dados apontam que 119 entrevistados (63,98%) acreditam que esse aumento inadmissível diante da piora das condições de trabalho por causa da pandemia. Quarenta pessoas (21,51%) acham preocupante; 18 (9,68%) pensam ser desnecessário, pois de acordo com eles, as metas anteriores já eram suficientemente desafiadoras; seis (3,23%) não responderam; três (9,68%) acreditam ser indiferente e absolutamente ninguém considera o aumento das metas necessário.

Ainda segundo a pesquisa, 88 (47,3%) acreditam que as metas para o primeiro trimestre de 2021 são absurdas diante do quadro de redução de pessoal e crise econômica causada pela pandemia; 85 (45,7%) as consideram exageradas; oito (4,3%), desafiadoras, porém, factíveis; ninguém acredita que as metas são brandas e cinco (2,7%) não assinalaram nenhuma opção.

O aumento desenfreado pela cobrança por metas por parte da Caixa, afirma Lizandre, tem como uma de suas explicações o projeto de privatização da instituição financeira. “O banco quer desempenho econômico. É necessário que a Caixa abandone sua função social. As metas são uma ferramenta para que o governo demonstre que o banco é altamente rentável e altamente privatizável”, diz a dirigente.

Falta de clareza

A pesquisa mostra que 110 gerentes (59,14%) não sabem

o porquê das metas e não têm confiança nas regras estabelecidas pelo banco. Setenta (37,63%) acreditam que as metas não levam em consideração a vocação das unidades. Apenas cinco (2,69%) afirmam ter clareza quanto às metas e concordam com elas; e somente um, o que corresponde a 0,54%, disse que as lives e contatos diários o inspiram e motivam a entregar a meta imposta.

A integrante da CEE-Caixa afirma que a falta de clareza apontada pela maioria se explica pelo fato de que as empregadas e os empregados da Caixa não participaram do processo de construção das metas, sendo tudo imposto de cima para baixo. “As metas não levam em conta a realidade de onde a agência está inserida. Às vezes ela está em um local cujo público não tem perfil, por exemplo, para aquisição de Previdência privada. Porém, as metas são idênticas às de outras agências em um contexto de mercado diferente”.

Dos 186 gerentes ouvidos pela Agecef, 178 (96,7%) trabalham em agências e seis (3,3%) em filiais. A maioria, ou seja, 104 (55%), têm mais de 10 e até 20 anos de atuação na Caixa. Outros 40 (22,8%) têm mais de 5 e até 10 anos; 39 (20.6%), mais de 30 anos. Três dos entrevistados, ou seja, 1,6%, têm mais de 20 e até 30 anos. Não há nenhum que tenha até cinco anos de Caixa.

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(Atenção: a pesquisa foi aplicada pelo Sistema Integrado de Associações de Gestores – SIAG. Os dados dos participantes são mantidos em total sigilo – Fenag)

Fonte: Bancários/ES (FEEB SC)