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Tidos como ‘dinossauros’, grandes bancos do País estão entre os mais digitalizados do mundo

Apesar da euforia de alguns analistas com a possibilidade de as fintechs tomarem conta do mercado, os ‘bancões’ avançam no uso de novas tecnologias e têm ‘fortaleza’ no crédito

Com o desenvolvimento acelerado de algumas fintechs, um sentimento de euforia contagiou a visão de alguns analistas sobre o papel que caberá às novas instituições no sistema financeiro do País. Em alguns casos, eles parecem acreditar que as fintechs vão tomar conta do mercado, com as suas operações digitais, e que os bancos tradicionais são uns dinossauros destinados a desaparecer da face da Terra.

Mas, no mundo real, o que se observa é um quadro bem diferente. Os grandes bancos brasileiros sempre foram pioneiros na incorporação da tecnologia. No caso do internet banking, por exemplo, os bancos de varejo do País foram dos primeiros a adotar o sistema no mundo. A rede de caixas automáticos, que se estende do Oiapoque ao Chuí, é outro exemplo emblemático do avanço tecnológico dos bancões. Mesmo antes do Pix, lançado no fim do ano passado, a rapidez das transferências efetuadas no País, sempre foi vista com uma ponta de inveja em outros lugares do mundo. É certo que as tarifas, muitas vezes, são salgadas, mas aí é outra questão.

No fim dos anos 1990, ficou famosa uma foto em que o fundador da Microsoft, Bill Gates, estava ao lado do então presidente do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, falecido em 2019, durante uma visita que fez à Cidade de Deus, em Osasco, na Grande São Paulo, sede do banco. Curiosamente, quem estava rindo no encontro era Gates e não Brandão, provavelmente pelo grande volume de investimentos realizados pelo Bradesco em produtos da Microsoft.

Só no ano passado, segundo a Febraban, os bancos investiram R$ 8,9 bilhões em tecnologia. Em 2020, de acordo com a entidade, o total de transações realizadas pelo chamado “mobile banking”, que são feitas basicamente pelo celular, já representaram, pela primeira vez, mais da metade (51%) do total de operações bancárias, o que mostra o grau de digitalização dos bancos tradicionais do País.

Concentração bancária

As instituições tradicionais também estão investindo em seus próprios bancos digitais e fintechs e entrando no terreno da concorrência. O Next, do Bradesco, que ainda opera vinculado ao banco, tem hoje cerca de cinco milhões de clientes e poderá ganhar a sua alforria em breve, com a realização de uma oferta de ações na Bolsa (IPO), de acordo com informações da instituição. O Itaú Unibanco, com o seu Iti, um aplicativo que funciona como um banco digital, também tem metas ambiciosas e espera conquistar 15 milhões de clientes até o fim do ano.

Além disso, os bancões têm uma vantagem relevante em relação às fintechs na área de crédito. Segundo Thiago Batista, diretor executivo do banco suíço UBS no Brasil e responsável pela área de análise de instituições financeiras na América Latina, as fintechs tiveram “muito sucesso” em adicionar clientes, mas não tanto em conceder empréstimos, até por não poder alavancar suas operações em relação ao capital.

“Tem muitas contas abertas nas fintechs que não estão sendo usadas”, afirma. “O fato de as instituições não cobrarem tarifa faz com que muitas pessoas abram conta e não necessariamente fechem conta. Muita gente abre conta para experimentar e se gostou ou não tanto faz. Como não tem tarifa, o pessoal deixa a conta aberta e vai embora.”

Por isso, para Batista, embora a concentração bancária no País deva cair um pouco mais, acentuando uma tendência já observada nos últimos anos, a participação de mercado dos grandes bancos não deverá encolher de forma significativa no médio prazo. “Os bancos tradicionais têm uma fortaleza no crédito”, diz. “A maioria dos novos players é de nicho. É difícil achar uma das novas instituições que tenha uma operação de crédito abrangente, nas áreas de veículos, crédito imobiliário, consignado e empréstimos para empresas.”

Fonte : Terra (FEEB SC)