O crescimento dos casos de adoecimento psíquico na categoria bancária é grave e crônico e tem que ser combatido, não podendo ser naturalizado. Esta foi uma das principais conclusões a que chegarem os participantes do debate virtual “Adoecimento Psíquico no Trabalho Bancário”, realizado na noite desta quarta-feira (5/4), nas redes sociais do Sindicato. Ao final foi feito um minuto de silêncio pelas crianças assassinadas numa creche em Blumenau (SC).
O psicoterapeuta Rui Stockinger trouxe dados de pesquisa da Universidade Católica de Petrópolis, que mostraram que 84,8% dos bancários adoecidos tinham a Síndrome de Bournout (veja no final desta matéria). Conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema
José Ferreira, presidente do Sindicato, disse ter constatado em conversas com bancários e bancárias na sede da entidade – na entrega de documentos para a ação do FGTS, nesta semana – o desinteresse de entrar com ações de reintegração por não aguentarem a pressão imposta pelos bancos para que sejam atingidas as metas abusivas, principal motivo que tem levado ao aumento do adoecimento. Adriana Nalesso, presidenta da Federação das Bancárias e Bancários do Rio de Janeiro (Federa-RJ), classificou o tema do adoecimento mental no sistema financeiro como muito importante.
“Não podemos naturalizar o que vem acontecendo e se agravando, graças à pressão diária e sistemática. Isto não pode ser considerado normal. Temos que atuar em todas as frentes para combater este tipo de politica desumana imposta pelos bancos”, afirmou.
O debate foi promovido pela Secretaria de Saúde do Sindicato. O titular da pasta, Edelson Figueiredo, coordenou o evento. “É importante levar este debate a toda a categoria”, disse.
80% com síndrome de Bournout
Pesquisa da Universidade Católica de Petrópolis, coordenada pelo professo Rui Costa, psicólogo e psicoterapeuta, que participou do debate, mostrou que 84,8% dos bancários adoecidos tinham a Síndrome de Burnout. Conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema. Rui explicou que pesquisas anteriores mostraram um percentual menor, como a de 2014 de 49% e a de 2018 de 55%.
“Foram consultados 1.585 bancários. Destes, 67,8% afirmaram não conseguir atingir as metas fixadas pelos bancos, um fator de desmotivação. A pesquisa mostrou outro fato preocupante: apenas 7,5 horas semanais eram destinadas ao lazer quando em outras categorias a média é de 12 ou 13 horas, indicando um alto índice de estresse e comprometimento da vida pessoal”, disse.
Segundo a pesquisa, 49% disse sentir-se pouco ou nada realizado em seu trabalho. “Isto gera uma situação de não valorização profissional que a pessoa acaba levando para a sua vida pessoal, com impacto na família”, explicou.
Além da pressão por metas em si, acabam gerando a Síndrome de Bournot, no caso da categoria bancária, o conflito ético de valores gerais, profissionais e muitas vezes religiosos. “Uma das causas apontadas é a obrigação de vender produtos que vão lesar os clientes. Isso abala valores centrais de sua personalidade para manter o seu emprego, levando, com o tempo, a um sentimento de vazio, ao desinteresse pela vida, a não ter vontade de cuidar de si, seja no trabalho ou em casa. Toda esta situação o leva a se afastar da pessoa que realmente é”, avaliou.
O conflito faz a pessoa a perder a capacidade de se atualizar, passando a agir de forma automática, sem espontaneidade. “Começa a se sentir incapaz de se realizar no banco e também fora dele, mas fica dependente daquela estrutura de funcionamento, abusiva e assediadora. Estamos falando de um assédio estrutural, presente na estrutura dos bancos”, frisou.
O professor explicou que a partir daí a pessoa com Síndrome de Bournout é levada a se recusar a ir ao trabalho. “Passa a sentir mal-estar psicológico, com choro, dores de cabeça, ansiedade, taquicardia, alteração de pressão. São muitos os bancários com Síndrome de Bournout”, constatou.
Fonte: Seeb/Rio (FEEB SC)