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Estamos assistindo ao fim do trabalho remoto?

A volta ao modelo de trabalho 100% presencial possivelmente é um dos temas mais debatidos hoje por colaboradores e lideranças de empresas de tecnologia em todo o mundo, embora esse não seja um tema exclusivo do setor.

No último mês, a notícia de que o Zoom está orientando seus funcionários a retornarem ao escritório deu novo fôlego à discussão – foi tema, inclusive, de conversas no grupo de fundadores de empresas investidas pela Andreessen Horowitz.

Afinal, se a empresa que permitiu que tantos de nós trabalhássemos de maneira 100% remota durante boa parte da pandemia definiu que seus colaboradores precisam ir ao escritório pelo menos duas vezes na semana porque isso é “mais eficaz”, será só questão de tempo até vermos o fim do home office?

O fato é que o Zoom não está sozinho. Na verdade, a empresa de videoconferência foi só a última a anunciar uma política nessa linha. Nos últimos meses, Apple, Meta, Google, Disney e JPMorgan, entre outros, comunicaram aos seus funcionários um retorno total ou parcial das atividades em suas sedes.

Se muitas empresas parecem convencidas de que a volta ao escritório é fundamental – e vemos isso também na queda do número de vagas 100% remotas –, os funcionários não estão tão certos disso. Uma pesquisa realizada pela consultoria Robert Half apontou, por exemplo, que 57% dos trabalhadores estariam dispostos a procurar uma nova posição caso o empregador atual optasse pela volta ao modelo presencial nos cinco dias da semana.

Pensei e li bastante sobre essa pauta nas últimas semanas e está claro para mim que não será simples resolver esse impasse. Antes de tudo porque cada lado – o dos que defendem o trabalho remoto e o dos que apoiam a volta ao modelo presencial – acredita genuinamente que está defendendo o certo.

Soma-se a isso o fato de que estamos lidando com diferentes gerações, pessoas com diferentes experiências pessoais e profissionais em diferentes cargos…

Os que são pró home office ou anywhere office nos lembram do tempo que se perde indo e vindo do escritório. Para essas pessoas, trabalhar em casa significa passar menos tempo no trânsito e ter mais tempo para a família, amigos e passatempos, ou seja, mais qualidade de vida. Significa também ser mais produtivo – sem tantas interrupções de colegas e outras distrações tão comuns quanto um ramal de telefone tocando.

Uma pesquisa feita pela ONG norte-americana National Bureau of Economic Research mostrou que o trabalho remoto “economiza”, em média, 72 minutos por dia para trabalhadores em todo o mundo. Principalmente para quem é casado e tem filhos e/ou mora longe do trabalho, essa costuma ser a razão número um para evitar ao máximo a volta para o presencial.

Mas será que não existe um “lado ruim” do home office?

Os que pedem o retorno ao presencial argumentam que sim. Que a produtividade observada no início da pandemia já não é mais uma realidade e que é difícil estabelecer e fortalecer uma cultura empresarial nesse formato. Citam também como pode ser difícil “desligar” das tarefas e estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal quando tudo acontece em um mesmo espaço.

Lembram, ainda, como o fechamento de escritórios em todo o mundo afetou a economia, com restaurantes e mercadinhos localizados em endereços comerciais, que dependem desse fluxo diário de pessoas, indo à falência.

Me lembro de ter lido um artigo ainda sobre como a comunicação pode ser mais difícil quanto é feita basicamente por e-mails e mensagens, o que exige muita interpretação, e como podemos deixar passar feedbacks importantes quando estamos atuando exclusivamente no online, o que seria especialmente prejudicial para quem está em início de carreira.

Aliás, não sei se você reparou, mas os dois lados citam a produtividade como uma justificativa fundamental para manter/por fim ao home office. Curioso, não?

Diferentes pesquisas acadêmicas demonstram que há, de fato, gaps no trabalho remoto, mas que também é preciso levar em consideração a felicidade dos funcionários que se livram de longas horas de deslocamento no trajeto casa-trabalho, como resumiu bem um texto da The Economist.

Se não há consenso, o que o CEO ou as lideranças de uma empresa deveriam fazer? O modelo híbrido seria a solução? A resposta que ninguém quer ler é que até o modelo flexível tem prós e contras.

Para citar apenas um exemplo, temos o modelo híbrido em que cada colaborador pode escolher quais dias irá ao escritório. Se cada pessoa do time escolher um dia diferente para trabalhar no local, não há interação. Cada um segue trabalhando em um endereço, com a diferença de que um está na empresa.

Um caminho talvez seja olhar para os dados e definir o que é mais importante para a companhia. Se, na sua empresa, o time produz mais trabalhando remotamente, vale a pena insistir no retorno ao presencial? Como essa decisão irá impactar na atração e retenção de talentos? Qual o custo de manter um escritório com posições de trabalho para todos? Como o modelo 100% presencial ajuda ou impede a diversidade? Valeria apostar em um modelo flexível que favoreça interações?

Isso definido, os colaboradores poderão fazer o mesmo. Analisar as condições oferecidas pela empresa e decidir se aquele modelo ainda faz sentido para si.

Fonte: Exame (FEEB SC)