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Marcelo Noronha quer tornar o Bradesco mais rentável. Mas será no ‘nosso ritmo’

Marcelo Noronha tem promovido mudanças no Bradesco, da alta cúpula à ponta de distribuição, com o fechamento de mil agências. (Por Cristiane Lucchesi e Vinícius Andrade) – foto divulgação –

Em entrevista à Bloomberg News em Nova York, executivo faz um balanço de seu primeiro ano à frente do segundo maior banco privado do país: ‘temos um plano e vamos segui-lo

Após um ano como CEO do segundo maior banco privado do Brasil, Marcelo Noronha disse que tem reestruturado o Bradesco com mais do que apenas lucros em mente.

“Estamos mexendo muitas coisas de uma vez só, e não é apenas para aumentar a rentabilidade”, disse Noronha em entrevista na sede da Bloomberg News, em Nova York. No topo da lista: tornar o banco mais competitivo em meio ao aumento nos juros e a uma maior competição das fintechs.

Noronha, de 59 anos, assumiu o cargo após as taxas de inadimplência e as despesas com provisões para perdas com empréstimos do Bradesco (BBDC4) atingirem o pico em 2022 e 2023.

Os maiores bancos e fintechs do Brasil expandiram enormemente sua oferta de cartão de crédito durante a pandemia e logo depois passaram a lutar contra os atrasos nos pagamentos.

Para piorar o cenário, empresas grandes entraram com pedido de recuperação judicial, como a Americanas e a Light, que lideraram o grupo no ano passado.

Noronha começou a reduzir as fragilidades na carteira de crédito do Bradesco e fez mudanças grandes na alta cúpula ao fechar cerca de 1.000 agências.

Os resultados do terceiro trimestre mostraram os sinais positivos da transformação: o lucro líquido recorrente aumentou 13%, para R$ 5,23 bilhões, em relação ao mesmo período do ano anterior, e superou as estimativas dos analistas.

E o retorno médio do banco sobre o capital (ROE, na sigla em inglês), um indicador da rentabilidade, subiu para 12,4% no trimestre, face aos 11,3% do ano anterior. Mas ele ainda fica atrás de concorrentes como o Itaú, com 22,7%, e o BTG Pactual, com 23,5%.

“Um período prolongado de retorno do capital abaixo do custo do capital – que tem aumentado no Brasil – continuará a ser razão para resistência dos investidores”, disseram analistas do JPMorgan. Mesmo assim, disseram, “reconhecemos o valor da franquia do Bradesco”.

Apesar disso, os acionistas ainda não estão especialmente animados.

As ações preferenciais do Bradesco – o segundo maior banco do país em valor de mercado que não pertence ao governo – caíram 19% neste ano, mais do que a queda de 4,5% do índice de ações de referência do Brasil, o Ibovespa, e do que o avanço de 1,9% do Itaú.

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Noronha, que ingressou no Bradesco em 2003, foi escolhido para ser CEO com o objetivo de mudar o rumo do banco.

Ele já havia sido responsável por vários dos muitos negócios do Bradesco, incluindo varejo, atacado e cartões de crédito.

Antes de ingressar no Bradesco, sediado em Osasco, Noronha foi executivo da unidade local do espanhol Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, que o Bradesco comprou em 2003.

Essas experiências serão úteis agora, pois os desafios voltaram a crescer.

Espera-se que o Banco Central do Brasil continue a aumentar as taxas de juros, o que forçaria os bancos locais a adotar uma postura mais cuidadosa para evitar uma nova onda de empréstimos inadimplentes.

Isso significa uma expansão mais modesta das suas carteiras de crédito e uma ênfase em clientes de menor risco, como os mais ricos, e em segmentos mais seguros, como empréstimos consignados ou crédito a pequenas empresas com garantias do governo.

Mas a concorrência por esses clientes é feroz, e os prêmios de risco de crédito, menores, o que reduz a rentabilidade.

“Ainda trabalhamos com uma expansão de 9% em nossa carteira de crédito, mas temos um portfólio muito mais seguro, que nos dá tranquilidade para desacelerar um pouco o ritmo de crescimento em um cenário de maior estresse”, disse Noronha.

A margem financeira do Bradesco caiu para 8,4% no último trimestre, de 9,1% no terceiro trimestre de 2023, e foi “a maior frustração nos resultados do Bradesco no terceiro trimestre”, segundo Pedro Leduc, analista do Itaú BBA.

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“Não tem data, dia ou hora” para que o retorno sobre o capital do Bradesco ultrapasse novamente o seu custo de capital, disse Noronha, mas os investidores devem esperar uma melhoria no quarto trimestre e nos trimestres subsequentes.

“Trabalhamos para entregar ROEs cada vez melhores”, disse ele. “Estamos crescendo, mas temos os pés no chão.”

As despesas aumentaram devido ao fechamento de agências, à necessidade de contratar talentos mais especializados e a maiores investimentos em tecnologia – incluindo em inteligência artificial. Mas os gastos deverão ajudar a aumentar a competitividade do banco no longo prazo, segundo Noronha.

O Bradesco também gastou ao criar uma joint venture com a unidade da Deere & Co. no Brasil, o Banco John Deere, para expandir no agronegócio.

E o banco concluiu a aquisição das ações em bolsa da empresa de cartão de crédito Cielo junto com seu sócio, o Banco do Brasil. Essas duas transações deverão ajudar a aumentar a lucratividade do Bradesco no futuro, disse Noronha.

Eduardo Rosman, analista do BTG Pactual, elogiou a margem financeira após a divulgação das provisões do Bradesco no terceiro trimestre, que foi melhor que a esperada.

Mas o desafio maior para o crescimento da margem financeira dada a Selic mais elevada e o estreitamento dos prêmios de crédito “podem desapontar aqueles que esperam uma recuperação mais rápida do ROE”, disse Noronha. “Não mudamos o nosso ritmo.”

“Temos um plano e vamos segui-lo: será passo a passo.” (Fonte: Bloomberg línea)

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