Banco teve lucro de R$ 9,981 bi em nove meses, mas cortou 4.335 postos de trabalho entre setembro de 2019 e setembro deste ano, num claro desrespeito com o país que é responsável pela maior fatia de seu resultado mundial
O Santander Brasil segue apresentando lucros e liderando o resultado global do grupo espanhol (o Brasil representa 30% do lucro mundial), apesar disso, continua cortando postos de trabalho no país. Nos primeiros nove meses do ano, o lucro líquido foi de R$ 9,981 bilhões – queda de -8,6% em relação ao mesmo período de 2019 – e no último trimestre (julho a setembro) foi de R$ 3,9 bilhões – alta de 82,7% em relação ao trimestre anterior (o resultado do 3º trimestre foi de R$ 3,9 bilhões frente à R$ 2,1 bilhões no segundo trimestre do ano).
Mesmo assim, o banco extinguiu 4.335 empregos em 12 meses (setembro de 2019 a setembro de 2020), sendo 2.045 entre o primeiro e o terceiro trimestres, ou seja, de março a setembro, durante o período de pandemia da Covid-19, desrespeitando compromisso assumido publicamente de não demitir enquanto durasse a pandemia.
PDD
O lucro seria ainda maior não fosse o efeito do aumento da Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), recursos que o banco reserva para possíveis calotes. A PDD subiu 39,2%, somando R$ 13,5 bilhões. Sem a PDD, o lucro do Santander seria de R$ 11,651 bilhões em nove meses, uma alta de 7,6% em doze meses e 0,2% no trimestre.
O lucro do banco caiu em relação a 2019 apenas por conta dessa PDD extraordinária no segundo trimestre deste ano, em função da pandemia. Mas essa provisão para calotes não se confirmou e a taxa de inadimplência segue em queda. Portanto, o banco agora no terceiro trimestre ja reverteu a PDD e teve um crescimento de 82% do lucro em função disso.
Irresponsabilidade social
“Esses números demonstram a total falta de responsabilidade social do banco espanhol com o Brasil, país onde o grupo continua lucrando mais do que em qualquer outro lugar do mundo. O Santander ‘retribui’ tirando os empregos de pais e mães de família em meio a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, que resultou no agravamento da crise econômica. Uma empresa que está lucrando mesmo neste cenário, deveria conservar empregos e contribuir com o país”, critica Lucimara Malaquias, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e coordenadora da mesa de negociação com o banco.
“Muitos dos bancários e bancárias desligados se dedicaram por décadas ao banco e adoeceram por sobrecarga, pressão e ansiedade por conta das demissões que ocorrem na empresa. O Santander faz propaganda interna exaltando as pessoas na instituição, fala de ‘gente’, fala de humanidade… Mas, na prática, as pessoas estão cada vez mais sendo desvalorizadas no banco”, denuncia Lucimara, referindo-se a vídeo intitulado “gente”, que foi veiculado internamente pelo banco no dia 25 de outubro.
A dirigente destaca que nas peças publicitárias há a mesma contradição. “O banco insiste no slogan em que pergunta o que pode fazer pelo cliente hoje, mas pratica juros e tarifas abusivas, fecha agências e demite funcionários, piorando o atendimento. Além disso, o cliente também é cidadão, vive num país com mais de 14 milhões de desempregados e está vendo o Santander contribuir com o aumento desse número. Esse cliente também é penalizado por uma gestão sem responsabilidade social, que onera a Previdência Social diante do grande número de demitidos, que contribui para o aumento da pobreza e para o aprofundamento da crise.”
Ainda segundo o balanço do banco, o Santander fechou 149 agências em doze meses, das quais 91 entre o início de abril e o final de setembro de 2020.
Sem justificativa
Lucimara reforça que as demissões não têm nenhuma justificativa: “Entre o segundo e o terceiro trimestre de 2020, auge da crise de Covid-19 no país, quando atingimos mais de 100 mil mortos, o Santander aumentou seu lucro em 82,7%!”
Destaca ainda que apenas com o que arrecada em serviços e tarifas bancárias, o banco cobre suas despesas de pessoal, incluindo PLR, em 194,9%. “Ou seja, com essa receita o banco pode pagar quase duas vezes a folha de pessoal. É um absurdo que ainda assim o Santander demita!”
Terceirização
Ela lembra que, além de demitir, o banco está apostando no aumento da terceirização, como é o caso da substituição do call center no Vila, em São Paulo, para um setor terceirizado no Rio Grande do Sul. “O processo de terceirização em andamento no call center escancara ainda mais a desumanidade de um banco que não respeita os compromissos assumidos, mas faz propaganda falando em ‘gente’. Santander, respeite e valorize de fato os milhares de funcionários que estão na linha de frente da pandemia, arriscando suas vidas e garantindo seu lucro. Não seja indiferente ao adoecimento dos seus funcionários. Respeite também a sociedade brasileira, cumprindo com sua responsabilidade social de gerar empregos”, cobra a dirigente. (Fonte: Seeb SP)
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