Otimismo com a retomada da atividade econômica, por conta da reabertura, ajudou no resultado; no entanto, fim do auxílio e risco de aumento da inadimplência em 2021 ainda preocupam (Por Fernanda Guimarães e Cynthia Decloedt, O Estadão)
Os cinco grandes bancos brasileiros, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, registraram no terceiro trimestre lucro líquido consolidado de R$ 18,95 bilhões, aumento de 18% em relação ao segundo trimestre. A melhora foi impulsionada pelo menor nível de provisões, que tinham crescido na primeira metade do ano para suportar o impacto da pandemia. No entanto, se comparado com o intervalo de julho a setembro do ano passado, o colchão contra calotes impôs uma queda de 36% em seus ganhos.
O que motivou as maiores instituições do País a diminuírem as provisões foi a melhora nas expectativas com a retomada da atividade econômica, por conta da reabertura. Nenhum dos bancos, porém, descartou que o cenário ainda tem de ser confirmado. Tampouco negaram que a inadimplência terá um pico na primeira metade do ano que vem, como consequência do fim do auxílio emergencial e da carência dada pelos bancos para o pagamento das dívidas. De todo o modo, a visão é de que as provisões estão adequadas para suportar o baque que deve vir em 2021.
“Apesar de percebermos indicações e sinais de estabilidade, ainda acreditamos que haverá um ciclo negativo de ajuste de inadimplência antes de uma retomada mais robusta. Os indicadores de inadimplência, notadamente os de 90 dias, devem aumentar já no primeiro semestre de 2021”, afirma o diretor sênior de instituições financeiras da Fitch Ratings para América Latina, Claudio Gallina.
O Bradesco aproveitou o terceiro trimestre para fazer novo reforço em suas provisões. Seu presidente, Octavio de Lazari, disse que o patamar está adequado para enfrentar o período de mais inadimplência e cujo o pico virá em 2021. Uma das razões, em sua visão, é o grande número de desempregados, na casa de 14 milhões de pessoas. “Quem não provisionou terá que provisionar”, disse.
“Em um momento de maior incerteza, os bancos tem de aumentar as provisões para os devedores duvidosos e isso gera uma redução nos lucros. Além disso, há um efeito da crise em si, já que a atividade econômica afeta a atividade de crédito”, diz o coordenador do curso de economia da Fundação Getúlio Vargas, Joelson Sampaio.
Mesmo assim, tanto o Bradesco, como os outros bancos apontaram em seus balanços otimismo com os níveis baixos de calotes entre os empréstimos que tiveram seus pagamentos prorrogados nos programas oferecidos para aliviar seus clientes da crise.
O mais recente deles, foi a Caixa. Ao divulgar seu balanço na última quarta-feira, 25, o presidente do banco, Pedro Guimarães, disse que os sinais de retomada dos pagamentos das dívidas se mostram positivos. Segundo ele, o banco foi surpreendido com o porcentual de retomada de pagamentos dos empréstimos que foram pausados, em decorrência das políticas adotadas para amenizar o impacto da crise da pandemia nos seus clientes. Embora o fim da pausa tenha se tornado efetivo no fim de outubro, Guimarães comemorou o fato de 92% dos pagamentos de 3 milhões de contratos terem sido retomados.
“Tivemos 3 milhões de contratos pausados, um volume significativo e não esperávamos uma volta tão forte, como aconteceu”, disse. A Caixa ainda permitiu o pagamento de 50% a 75% do valor da parcela para “ajudar a fazer a curva de pagamento”. No entanto, acrescentou, “poucas pessoas usaram essa possibilidade”. (Fonte: Estadão)