O novo chatbot é um popstar. Ele conversa, escreve, compõe e desenha. Ela sabe muitas coisas. E o que não sabe, inventa sem pudor, tem personalidade e, de vez em quando, dá uns chiliques, como nas conversas com o jornalista americano Kevin Roose. E com tudo isso, é natural que muita gente se pergunte: o que acontecerá se esse programa quiser o meu emprego?
O ChatGPT é a última ferramenta em um processo de automação de funções e tarefas que não é nem um pouco novo, e talvez tenha se iniciado com a invenção da roda, mas podemos localizar na Inglaterra vitoriana o primeiro movimento de oposição ferrenha à automação.
Foi lá que surgiu uma organização secreta, os Luditas, que usavam métodos violentos e de sabotagem para impedir a adoção de máquinas de fiação automáticas nas tecelagens inglesas, por temor que essas causassem desemprego em massa.
O movimento dos Luditas acabou, a automação tomou conta de todas as tecelagens do mundo, e ninguém ficou sem trabalhar. Assim como produtores de cinema não ficaram sem trabalho com a chegada do VHS, radialistas com o advento da televisão, maquinistas e condutores de carruagens com a invenção do carro e do avião, datilógrafos com o aparecimento do PC, e a lista segue infinita em todas as direções.
Tecnologias destroem profissões, mas criam empregos
Quando se observa individualmente o conjunto de tarefas ligadas e uma profissão, empregos podem ser perdidos. Linotipistas não existem mais. Mas quando a observação é macroeconômica, cada nova tecnologia expande o corpo de demandas ocupacionais, e os indivíduos se readaptam a novas funções e responsabilidades. Portanto, tecnologias destroem profissões, mas criam empregos. E o ChatGPT não vai tomar o seu.
Vou reforçar a afirmação com duas outras razões. A primeira delas: eu trabalho com Inteligência Artificial e automação há mais de uma década, sempre buscando a mesma coisa, aumentar a produtividade de organizações, e nunca, repito, nunca, vi empregos serem perdidos em razão de automação. Nenhuma organização, de qualquer tamanho, demite bons profissionais porque suas funções foram substituídas por automação. Essas organizações automatizam processos exatamente para que bons profissionais possam se concentrar em funções mais nobres, que demandam sensibilidade e tomada de decisão.
E quero comprovar essa afirmação com alguns números. Os Estados Unidos são ― pouca gente vai argumentar contra isso ― a economia mais intensamente automatizada do mundo. E na recuperação pós-Covid, o país tem hoje a menor taxa de desemprego desde 1969. De fato, não há trabalhadores para todas as vagas disponíveis, portanto, a única solução é automatizar mais.
E não é só lá. No Brasil , a taxa de desemprego cai em trimestres sucessivos há dois anos, e os países da OCDE fecharam o ano de 2022 com taxa média de desemprego de 4,9%, o limite do que chamamos de território de pleno emprego.
O segundo fator é ainda mais interessante. O crescimento populacional estacionou em quase todas as locomotivas econômicas do mundo ― e não há volta. China, Japão, Coréia, Espanha, Portugal, Itália e Alemanha têm taxas de natalidade negativas ou próximas de zero.
E no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul, que cresceu apenas 0,06% em 2021, é apenas o primeiro retrato de uma tendência irreversível de redução e envelhecimento da população. Mas a economia não vai crescer zero. A previsão para a economia global é crescer por volta de 3,5% esse ano.
Como ter crescimento se não há gente?
E como crescer, se não tem gente para ocupar empregos? Com o aumento de produtividade ― e para incrementá-la ainda mais ―, precisamos de todos os ChatGPTs e seus primos que pudermos usar.
Mas volto a repetir: se o volume de empregos não vai mudar, sua natureza vai.
(*) Alex Winetzki é CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, de soluções digitais.
Fonte: Terra (FEEB SC)