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BRADESCO REDUZ HIERARQUIAS E VAI REDESENHAR VAREJO PARA RETOMAR RENTABILIDADE DE 20%

Movimento vai enxugar a cúpula do banco e acelerar processo e dar maior poder de decisão aos executivos (Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior) – foto Paulinho Costa feebpr – 

Um banco com menos hierarquia, maior poder de decisão nas mãos dos executivos e com um varejo remodelado. Este deve ser o mote do Bradesco nos próximos cinco anos, período em que deve colocar em prática o plano estratégico divulgado nesta quarta-feira pelo novo presidente, Marcelo Noronha. Elaborado em 60 dias, quando o normal seriam pelo menos seis meses, o plano tem como principal objetivo levar o banco de volta aos 20% de retorno, após um ciclo de resultados bem abaixo disso (em 2023, estava em 10%), além de elevar a participação no mercado de crédito.

Noronha afirmou que desde que assumiu o banco, em novembro do ano passado, o plano foi discutido praticamente todos os dias, “tirando a noite de Natal e o réveillon”. Com a ajuda de uma consultoria externa, a McKinsey, o Bradesco se debruçou sobre “fortalezas e fraquezas” e adiantou a entrega do planejamento em uma sinalização ao mercado de que vai virar a página.

Na cúpula, haverá uma reorganização, com parte do corpo executivo dedicado a tocar o dia a dia do banco, separado em unidades de negócio, e outra parte à frente da implementação do novo plano. “A nossa principal meta é entregar rentabilidades superiores”, afirmou Noronha a analistas, durante a teleconferência.

O primeiro movimento foi enxugar a cúpula do banco, com menos níveis hierárquicos. Daqui em diante, diretores que chegarem ao comitê executivo não deixarão de exercer suas funções anteriores. Acima deles, as áreas do Bradesco foram separadas em seis unidades de negócio, que contarão com outras quatro unidades de suporte, separadas em temas como recursos humanos, riscos e operações.

“A nossa estrutura era complexa, com um excesso de degraus”, disse Noronha aos analistas. De acordo com ele, a simplificação deve tornar mais rápida a tomada de decisão dentro do banco, um passo fundamental para que os demais pontos do plano estratégico se concretizem.

Daqui em diante, as principais diretrizes serão aumentar a participação no dia a dia financeiro de clientes de alta renda; manter a liderança entre pequenas e médias empresas; acelerar a modernização dos sistemas do banco; e melhorar modelos de crédito, utilizando mais dados e inteligência artificial. No crédito, o objetivo do banco é sair da participação atual de 14% do mercado para algo entre 15% a 19% em cinco anos. Nas pequenas empresas, aumentar o número de clientes dos atuais 1,7 milhão para algo entre 2 milhões e 2,5 milhões.

“O Bradesco sempre foi um dos players mais tradicionais do mercado, com forte ênfase na construção de carreira com ‘pratas da casa’, e menos rápido que alguns concorrentes na adaptação às mudanças de terreno que vimos nos últimos anos”, afirma o sócio da consultoria de inovação Spiralem, Bruno Diniz. “É uma grande instituição e um player muito relevante que, no momento, precisa atualizar diferentes frentes.”

No novo desenho da diretoria, o Bradesco terá seis unidades de negócio que responderão a ele. São elas: atacado; wealth management; varejo; negócios digitais; crédito; e tesouraria e pesquisas econômicas. A Bradesco Seguros segue como antes, reportando a Noronha, e sob o comando de Ivan Gontijo.

Nas unidades que respondem pelos negócios, o atacado ficará com Bruno Boetger, e o Wealth, com Guilherme Leal. O varejo será comandado por José Rocha Neto, e o crédito, por André Luis Duarte de Oliveira.

Haverá ainda quatro unidades de suporte: a de operações, com Rogério Câmara; uma de transformação, que ficará sob a responsabilidade do vice-presidente de finanças, Cassiano Scarpelli; a de riscos, com Moacir Nachbar; e a de recursos humanos e sustentabilidade, que também ficará com um nome de fora.

Até o ano passado, o Bradesco tinha sete vice-presidências que respondiam por diferentes áreas do banco, e sob elas, estavam cerca de 20 diretores. Todos eram profissionais com décadas de carreira no conglomerado.

No dia a dia
O objetivo do banco é que as mudanças na estrutura, que já estão sendo implementadas, se traduzam, para o cliente, em um atendimento remodelado. No “coração” do Bradesco, que são os clientes com renda de até R$ 8 mil mensais, o desafio é reduzir o custo da estrutura sem deixar de estar presente. Noronha afirmou que o banco está fazendo um profundo mapeamento da rede e que vê nos correspondentes, abrigados sob o Bradesco Expresso, uma das vias de redução de custos, mas não de presença física.

Para acelerar o passo, o banco dividiu em duas a antiga área de varejo, que era comandada pelo próprio Noronha até novembro passado. “Separamos o digital do varejo físico por uma questão de foco e de habilidade”, disse Noronha. A nova área, de negócios digitais, terá um executivo de fora – uma quebra de paradigma para o Bradesco, feita justamente para oxigenar o banco.

Em relatório enviado a clientes, o BTG Pactual destacou o reconhecimento, pelo Bradesco, de que algumas mudanças no varejo bancário não são cíclicas, mas estruturais. “Acreditamos que o novo presidente deixará a mensagem de que ‘modo negação, não mais’, o que consideramos muito bem-vindo e acreditamos que seja o primeiro passo no processo de recuperação, que também não deve ser fácil”, escreveu o analista Eduardo Rosman.

No final do ano passado, o Bradesco tinha 2.695 agências Brasil afora, 169 a menos que no final do ano anterior. Noronha não disse quantas unidades o banco vai fechar, mas afirmou que a presença física está sob revisão. Ao mesmo tempo, destacou que a estrutura do banco não necessariamente diminuirá, mas que pode ser realocada entre segmentos. No quarto trimestre, o Bradesco separou R$ 570 milhões para gastos com a reestruturação da rede.

Mais uma camada
Um dos próximos efeitos concretos do plano será no varejo de alta renda. O banco está formulando um novo segmento para clientes que ganham acima de R$ 25 mil mensais, ou que tenham R$ 300 mil ou mais para investir, mas que não se enquadrem na “barra” de R$ 5 milhões em investimentos do chamado private. O novo produto deve ficar acima do Prime, a atual marca do varejo de alta renda do Bradesco.

O banco detectou que tem uma presença importante no segmento, mas que falta fazer com que esse cliente faça mais transações no Bradesco. “Nós não estamos partindo do zero, temos 1,7 milhão de clientes afluentes. Mas precisamos aumentar a nossa participação na carteira deles”, afirmou Noronha.

A nova marca será lançada ainda neste ano. O investimento responde ao que outros bancos fizeram nos últimos dois anos: o Itaú relançou o Personnalité e o Santander reforçou o Select, com novas configurações de agência e reforços de equipe. Por trás do movimento, estava o ataque de empresas independentes de investimentos, como a XP, a esse público, que começou pelas aplicações financeiras e logo avançou para produtos bancários, como os cartões de crédito.

Embora a transição seja gradual, o Bradesco terá o desafio do “tudo ao mesmo tempo agora”. “Nós vamos executar todas as iniciativas ao mesmo tempo, não vamos escolher uma ou outra”, afirmou Noronha. (Fonte: Estadão)

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