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RESULTADO DOS BANCOS EM 2023 APONTA QUE BAIXA RENDA AINDA É QUEBRA-CABEÇA PARA SETOR

Varejo massificado segura lucro de Santander e Bradesco, enquanto BB e Itaú colhem frutos de agro e alta renda (Por Júlia Moura)

Depois da fraude contábil da Americanas, que levou os bancos a provisionar as dívidas bilionárias da varejista, agora o setor enfrenta novo dilema: como lucrar com a baixa renda.

Mesmo com a queda na inadimplência dos brasileiros no segundo semestre de 2023, o varejo massificado ainda traz prejuízos ao Santander e um custo muito alto ao Bradesco, que registraram queda no lucro anual. Ambos aumentaram a concessão de empréstimos acima do mercado durante a pandemia, o que pesou nos balanços referentes ao ano passado.

Já Itaú Unibanco e Banco do Brasil demonstraram ter modelos de crédito mais adequados ao cenário de queda do poder de compra dos brasileiros e juros altos. Além disso, ambos têm outros pilares de sustentação, como o agronegócio no caso do BB e a alta renda no Itaú.

“Entre os grandes bancos, Bradesco e Santander foram os mais expostos aos empréstimos para varejo e para segmentos de baixa e média renda”, diz relatório da agência de classificação de risco Moody’s.

Dados divulgados pelo Banco Central na última terça (6), apontam que o índice de inadimplência dos empréstimos das famílias diminuíram pelo sétimo mês consecutivo em dezembro, para 3,7% de um pico de 4,3% em maio de 2023.

“O declínio constante indica que os padrões mais cautelosos de originação de empréstimos dos bancos desde meados de 2022 estão compensando, como, por exemplo, para o Itaú”, dizem os analistas da Moody’s.

BANCO DO BRASIL
Em 2023, o Banco do Brasil aumentou a concessão de crédito em 10%, elevando a sua carteira ampliada para R$ 1,1 trilhão, e viu o resultado crescer na mesma medida.

O lucro líquido recorrente (que exclui itens extraordinários) cresceu 11% e somou R$ 35,56 bilhões no ano passado, recorde histórico nominal para a instituição centenária, agora presidida por Tarciana Medeiros.

O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido, que mede a rentabilidade da operação) do BB melhorou de 21,1% para 21,6%, de um ano para outro, mesmo com aumento na inadimplência e nas despesas.

Em relação à inadimplência, o índice em contas com mais de 90 dias de atraso, que era de 2,51% ao fim de 2022, subiu para 2,92% em dezembro passado, em um aumento constante a cada trimestre. Apesar de ainda estar abaixo da média do mercado, o BB vai na direção contrária.

Nesse caso, a culpa não foi do segmento de baixa renda, e sim de pequenas e grandes empresas que levaram o banco a quase dobrar sua PDD (provisão contra pagadores duvidosos), para R$ 30,5 bilhões.

Para Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, o maior provisionamento é “bem alto” e inesperado. “Pode estar relacionado com o agronegócio, que está em um cenário bem difícil.”

Segundo o Goldman Sachs, uma safra pior do que o esperado em ano de El Niño é um dos grandes riscos para o banco, que tem na agropecuária um dos seus pilares.

BRADESCO
Depois de um 2022 dramático, que levou à uma troca no seu comando, 2023 apontou que o problema do banco não é tão simples de ser resolvido.

O Bradesco lucrou R$ 16,297 bilhões em 2023, 21,2% a menos que em 2022, quando o resultado da companhia já havia encolhido 21%, para R$ 20,7 bilhões.

O ROE ficou em 10% ao fim de 2023, 3 pontos percentuais abaixo do registrado ao fim de 2022 e o pior desde, pelo menos, 2007, ano inicial da série história disponibilizada pelo banco —o ROE ideal para investidores gira ao redor de 20%.

A instituição ainda sofre com o aumento inadequado dos empréstimos durante a pandemia e a alta inadimplência que se seguiu, com a rápida alta nas taxas de juros.

Agora, o foco do novo presidente, Marcelo Noronha, é reestruturar a operação, com um menor apetite por risco, redução de custos e investimento no alta renda. Para analistas, a reorganização não deve apresentar resultados tão cedo.

ITAÚ
Com a maior fatia do público alta renda do mercado e uma transição tecnológica mais avançada, o Itaú teve o maior lucro entre os pares em 2023, com um ROE de 21%, alta anual de 0,6 ponto percentual. Foram R$ 35,618 bilhões, 15,7% a mais que o registrado em 2022.

A alta nos ganhos veio de cartões de crédito e dos braços de investimentos e seguros.

Além disso, o banco manteve a qualidade da sua carteira de crédito, o que levou a inadimplência para 2,8%, a mais baixa dos últimos cinco trimestres. Apesar dos números saudáveis, o banco não pretende acelerar a concessão de crédito, afirma Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú desde 2021.

Dentre os quatro maiores bancos listados na Bolsa de Valores brasileira, o Itaú foi o único que prometeu lançar o seu superapp até o fim de março.

Segundo o Goldman Sachs, entre os maiores riscos para o banco estão as operações na Colômbia e no Chile, que não estão com boas rentabilidades. Em 2023, o Itaú vendeu seu braço argentino com prejuízo de R$ 1,2 bilhão.

SANTANDER
Assim como o Bradesco, o Santander Brasil ainda sofre com a grande concessão de crédito durante a pandemia. O banco teve um lucro de R$ 9,383 bilhões e um ROE de 11,8% em 2023, uma queda de 27,7% em relação a 2022, quando o ROE ficou em 16,3%.

A XP Investimentos classificou o 2023 do banco como “um ano para esquecer”.

A piora no resultado se deve ao aumento de 7,7% na provisão contra calotes, para R$ 29 bilhões. Uma parte desse número se deve a Americanas, da qual o banco é um dos maiores credores.

Também sob nova direção, o Santander agora busca tornar a sua operação para o varejo massificado rentável. Para isso, irá reduzir as linhas de cartão de crédito disponíveis e investir na interface de seu aplicativo, deixando a oferta de produtos mais simples e acessível.

Mario Leão, presidente da instituição, vê caminho para que o banco cresça na oferta de investimentos, especialmente na alta renda, onde o Santander deve concentrar seus esforços neste ano. (Fonte: folha de SP)

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